quinta-feira, 5 de junho de 2014

Extrativismo global, miséria local

De todas as atividades florestais, a extração de látex e produção de borracha natural da Seringueira parece ser uma das mais folclóricas, e talvez, a mais relegada. Ainda é ensinada como atividade de um ciclo econômico ultrapassado e rudimentar. Uma atividade mitificada, efetuada nos recônditos da floresta amazônica.

O mito e o real: o folclore e a subsistência 

Em decorrência dos contextos geopolíticos globais vigentes, o extrativismo do látex da seringueira foi feneticamente impelido por duas vezes na história moderna. Alterou o arranjo financeiro local e mundial, 

A revolução industrial e a indústria automotiva, na efervescência do 2° conflito mundial, demandaram quantidades de um material, que até então, possuía uma única fonte viável: uma árvore conhecida milenarmente pelos nativos das selvas tropicais sul americanas. E promoveram significativas alterações sociais, culturais e econômicas nas nações produtoras.

Territórios até então distantes e impensáveis foram conectados financeiramente. O norte amazônico, o nordeste árido, o sudeste oligárquico e as metrópoles mundiais integrados, cada um na sua função, na histeria financeira da borracha. E o ordenamento econômico distanciou socialmente  territórios produtores de centros administrativos e financeiros.

O modelo exploratório impôs um ideal irrecusável para um contingente sem opção, com a mínima logística direcionada à extração da valiosa matéria prima, nos recônditos insalubres da amazônia.

Apelo irresistível (meramente ilustrativo).
As metrópoles locais enlouqueciam na febre do consumismo ostentatório dos Barões da Borracha, muito mais que com os outros oligarcas rurais, comerciais e industriais das respectivas épocas. Foi no meio dessa farra que o botânico da Rainha provocou a quebra do primeiro ciclo amazônico da borracha.

A biopirataria, que até hoje é legalmente permitida, com uma carga de sementes de Hevea brasiliensis, resultou no deslocamento continental da cadeia dessa importante matéria prima e respectivo fluxo de capital. No profundo e irreversível impacto à economia nacional, não ficou registrada claramente a dissipação da população extrativista, a desmobilização emigração de recursos e de capital, o desaparecimento de fortunas e a erosão do patrimônio. 

Essa exploração florestal talvez tenha representado, nas duas ocasiões históricas de demanda externa do látex, a possibilidade  de desenvolvimento econômico, regional e nacional, com integração financeira e social da amazônia.

Ficaram tantas histórias insanas e infelizes conectadas na imponência da selva e na loucura humana, entre bancos, palácios e seringais. Tal qual Herzog retrata em Fitzcarraldo. E ainda não conseguimos aprender.

2 comentários:

  1. excelente texto zé!

    me fez pensar no tanto de brasileiro que seguiu em busca deste sonho....
    um tanto que não tem número, que não tem nome, mas que tem uma história ainda pra ser contada!

    abração

    simone

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  2. Realmente! O problema está no ser humano que até hoje não respeita os princípios elementares da sustentabilidade e colocar em primeiro lugar as coisas, o poder o dinheiro, a vaidade, a luxúria, etc....

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