terça-feira, 4 de setembro de 2012

Proteção Intermitente = Insegurança Permanente


A denominação Preservação Permanente, desgastada por apaixonadas e calorosas discordâncias, passou a constituir um jargão de pretensa proteção de habitantes urbanos para áreas predominantemente rurais. Incorporou a antipatia ideológica como impeditivo à produção rural. Tem sido distanciado o conceito do conhecimento, e assim polarizam-se as infundamentadas e parciais posturas.

Área degradada ou consolidada?
De um lado a sociedade urbana clama pela conservação de árvores e animais, por força do convencimento apelativo de superficiais abordagens televisivas. O envolvimento apaixonado  nada tem a ver com uma necessidade prática ou premente. Se percebe a proteção e amortecimento da vegetação das margens de rios, somente quando das enchentes e enxurradas. Empresários de comunicação e administradores públicos alardeiam sua ausência somente em ocorrências desastrosas. Mas todos esquecem que a ocupação empreendida e permitida nas cidades provocou a impermeabilização de quase todo o solo das bacias urbanas.


Área de insegurança intermitente

Por outro lado, produtores agrários rebatem a utilidade e necessidade de vegetação ciliar para as funções e regulações ambientais, às expensas de mais alguns hectares acrescidos à área rentável. O resultado do escoamento superficial de boa parte da água caída da chuva, que leva a destruição e a fertilidade do solo, não é percebido dentro da propriedade. 

A maioria dos consumidores urbanos credita o ônus e a responsabilidade da revegetação exclusivamente aos atuais produtores rurais. Estes reclamam, com certa razão, da conta da recomposição florestal. A prática do desflorestamento é resultante em parte, pelo estímulo histórico e pela cultura da soberania feudal do proprietário rural, gerada pela ausência e omissão do  Estado. E este não  incentiva efetivamente a recuperação da cobertura arbórea, direcionando a isenção de impostos para comerciantes de automóveis. Na queda de braço, o Parlamento, refletindo sua composição, pende para o lado de maior expressão econômica, e radicaliza atirando no pé apertado pelo sapato. Se o problema do trem é no último vagão, retira-se o último vagão.


Preservação intermitente?
A visão estreita e limitada somente enxerga o crescimento incondicional e imediato como se não houvesse uma capacidade de suporte a ser respeitada. E a segurança de populações e da própria economia é jogada por água abaixo, por não se perceber que a dinâmica dos fenômenos naturais é cíclica e interligada. Cursos d'água intermitentes evidenciam que o ciclo hidrológico e climático obedece uma pulsação vital, da qual depende toda a biota. Pensar que, pelo fato de não estar correndo água num curso qualquer, não há necessidade de cuidá-lo e protegê-lo, é equivalente a achar que por não estar na fase de colheita a cultura não merece cuidados e a terra que a suporta, não tem serventia.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Florestabilidade

Despertar vocações para carreiras em manejo florestal. Assim começa a descrição do Projeto encampado pela Fundação Roberto Marinho. Parceria com o Fundo Vale  e com apoio do Serviço Florestal Brasileiro e Governos Estaduais da Amazônia, o Projeto ‘Florestabilidade: Educação para o Manejo Florestal’ procura difundir o uso sustentável das florestas e oferecer recursos pedagógicos para professores e técnicos extensionistas da Amazônia. Segundo o texto, a necessidade de se propagar as vantagens econômicas, sociais e ambientais do manejo florestal consiste numa das justificativas do projeto. Em todas as palavras, tudo o que a sociedade deseja, especialmente a comunidade florestal.



Não era sem tempo que uma organização atrelada a uma das maiores empresas de comunicação do mundo assumisse uma iniciativa, sem trocadilhos, dessa natureza. A programação e a propaganda que veicula parecem não despertar mais interesse em temas relevantes. A curiosidade dos telespectadores, quando muito, é direcionada para temas fúteis e espetacularmente irrelevantes. A apatia, desinteresse, indiferença e desinformação em assuntos vitais é a regra. Seria isso proposital? 


A mineradora, também uma das maiores do mundo, agraciada recentemente com o título de empresa com a pior atuação ambiental, se propõe a refazer a conceituação popular, apoiando financeiramente esta distinta empreitada, apesar do montante irrisório e alcance restrito


Mina de Carajás. Foto Salviano Machado
Quanto ao serviço público, já temos nosso pós conceito: nós contribuintes custeamos, é ineficiente ou não funciona, é corrompido, e apesar de tudo isso, não quero nem saber. Talvez tenha sido a programação televisiva, que contribuiu durante décadas para tais convicções e omissões, numa concessão intencionalmente permissiva ou conivente. E agora a passividade parece inquebrável. Mas vem ai a próxima atração.

Programação no horário nobre, recursos massivos da mineradora, fortalecimento institucional e estruturação do órgão para cuidar integral e totalmente da produção florestal? Nem tanto.


Três horas de aula para 2 mil professores e algum material didático não poderão fazer muito. E a programação continuará propositalmente alienante, a cava de lavra continuará aumentando e gerando retorno aos investidores. O serviço continuará inoperante e ineficaz.


A supremacia da bovinocultura e a rentabilidade dos insumos e mercadorias agrícolas e minerais continuarão sobre o estorvo das coberturas arbóreas nativas. Mas antes um alento que um sufoco. 

Pecuária ou floresta?  Foto: Ernesto de Souza

O gestor público disse que era um sonho o Manejo Florestal ser incluído na programação da emissora. E é justamente no intuito de tornar isso realidade, aproveitando a carona nessa nobre tarefa, centrada na essência da produção florestal, que os profissionais, entidades, servidores e consumidores devem agir. No acompanhamento do projeto, no repasse das informações, na divulgação dos resultados e seus ganhos, e sobretudo, na replicação das ações.


Deve-se aproveitar a oportunidade para esclarecer, divulgar, valorizar, convencer e promover a adesão da maioria, inclusive daqueles que pensam contrariamente.




O mérito do propósito nos deixa uma esperança de que não só crianças, estudantes e ribeirinhos de áreas periféricas e dependentes da Amazônia sejam instruídos. Telespectadores, acionistas, financiadores, fabricantes, comerciantes, anunciantes e governantes, também poderiam obter, quem sabe, esclarecimento para mudar suas convicções. E também algumas gotas de ânimo para escolher a floresta como fonte de desenvolvimento, no oceano de eficientes estímulos desflorestadores.


Para saber mais sobre o Projeto Florestabilidade:

http://www.frm.org.br/main.jsp?lumPageId=FF8081811F27C555011F37254F73287F&lumS=projeto&lumItemId=8A3E4E38344573090134A49A2A706EE2


http://www.florestal.gov.br/noticias-do-sfb/projeto-florestabilidade-e-lancado-no-rj


terça-feira, 10 de julho de 2012

O profissional das Florestas

Profissionais com atuação ou relacionados ao meio ambiente existem inúmeros. São incontáveis os profissionais que tratam de recursos naturais, que trabalham com ecologia, que cuidam dos seres vivos, ou se dedicam à preservação de ecossistemas. Pertencem a diversas categorias, com as mais diferentes formações.


Mas para trabalhar com florestas, procurando o ordenamento destas formações, aliando a manutenção dos recursos florestais a uma produção com rendimentos sustentáveis, prevendo a manutenção perpétua de estoques e a maximização da rentabilidade, existem poucos profissionais habilitados. 

Em numero certamente insuficiente, estes profissionais tiveram uma formação que os habilita a trabalhar com diversas atividades relacionadas às florestas e aos recursos delas advindos, nos seus mais distintos aspectos e enfoques. Desde o manejo de fauna, visando a exploração econômica dos animais nativos com potencial econômico, a recuperação, reabilitação e recomposição de áreas florestais, como Reservas Legais e Áreas de Preservação Permanente, passando por questões ambientais de caráter bioclimático, edáfico, hídrico, biológico e ecossistêmico, até a atribuição mais emblemática, o manejo para fins madeireiros, cuja habilitação é própria e específica. 



A produção florestal, geralmente apontada como nociva e indesejável, em função da abordagem ambiental imposta pelos meios de comunicação, necessita de profissionais com formação específica. É justamente essa formação e vivência que permite conciliar a exploração e a preservação, habilidade singular que poucos profissionais desenvolvem. Daí surge a possibilidade de sustentação das atividades econômicas de origem florestal, fundamentada pela visão que considera a floresta como fonte e recurso.

Resta uma participação mais intensa e efetiva da categoria, que deve ser estimulada e incentivada por iniciativa do poder público, e demandada pelos setores produtivos. A valorização e o reconhecimento serão então, uma consequência natural.

Todo florestal já foi para a mata, e aprendeu que ela deve ser usada e mantida, da melhor forma e com os melhores propósitos possíveis.



Parabéns a todos da Floresta.