segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Sustentabilidade e durabilidade: a origem do conceito

O princípio da obtenção de rendimentos florestais sustentados foi inicialmente abordado por Hans Karl von Calowitz em 1713, na sua obra mais conhecida "Sylvicultura Oeconomica", propondo instruções para a condução de árvores silvestres (nativas).


Membro de uma tradicional família de gestores florestais na região de Ergsbirge, Alemanha, Carlowitz era responsável pela administração da mineração em Freiberg, e também eram de sua atribuição, gerenciar o fornecimento de madeira (energia), principalmente para a indústria da mineração e para a crescente metalurgia na região. 

A escassez de fontes de madeira e de carvão na Europa, a devastação provocada pela Guerra dos Trinta Anos, o crescimento exponencial da população e das cidades, a exploração desordenada e a busca do lucro a curto prazo, fizeram Carlowitz pensar num regime que perpetuasse e mantivesse constante o fornecimento de madeira de qualidade para a indústria, e para a população.



Muito mais do que um tratado teórico, propôs princípios práticos para a futura Silvicultura e para o próprio Manejo Florestal, relatando técnicas de cultivo e condução de florestas então silvestres e estabelecendo o conceito de exploração com perpetuidade e constância, utilizando o termo "nachhaltig", em tradução direta, duradouro.

A contribuição de Carlowitz para a Ciência Florestal é inquestionável, tendo provido os fundamentos teóricos e práticos primordiais para a condução, proteção, exploração e ordenamento florestal, numa concepção de benefícios sociais e econômicos, com responsabilidade de manutenção de estoques.



Nas escolas de Engenharia Florestal, cumulativos conceitos, princípios e fundamentos técnicos, teóricos e práticos, permitem o entendimento da premissa de obtenção de "rendimentos sustentados", dentro da abordagem do Manejo Florestal. Tal conceito procura descrever numa base técnica e operacional, o regime onde a intensidade de exploração em atividades econômicas de longo ciclo é condicionada à capacidade de renovação de estoques, para obtenção constante (não crescente) e contínua, de produtos e serviços da Floresta.

A aplicabilidade e pertinência do conceito deve considerar os componentes elementares do princípio. Os estoques do recurso são renováveis? A exploração ocorre em intensidade e ciclo definidos por essa renovabilidade? Os rendimentos obtidos são permanentes e constantes?

O mais importante não está na aplicação ampliada ou técnica do conceito, mas nos princípios e valores que estão envolvidos. Capacidade de carga e suporte, renovabilidade, ciclo e intensidade de exploração, compõem a condição para a possibilidade de fornecimento limitado de produtos e matérias primas, a um numero estável de consumidores. 

Malthus enunciou numa ótica demográfica, quase um século depois à obra de Carlowitz, a impossibilidade de exploração crescente de recursos, para uma população cada vez maior, numa perspectiva de crescimento econômico ilimitado

A formação em Direito e Ciências Políticas favoreceram a percepção estratégica e  o entendimento geopolítico de Carlowitz àquela época, antevendo a necessidade de uso e manutenção dos estoques de recursos naturais. E sua experiência com condução e exploração de florestas, essencialmente prática desde sua infância, lhe permitiu perceber que a obtenção de rendimentos duráveis - sustentados, era a condição para a manutenção e uso perpetuado dos recursos florestais.

A obra de Carlowitz é comumente omitida e o princípio nela abordado é deturpado e simplificado, num conceito abstrato, sinônimo do "bom desenvolvimento" ou como condição hipotética, defendida na justificativa de rendimentos crescentes, imediatistas e não duráveis (insustentáveis)Bom senso e entendimento ajudam a evitar que conceituemos previamente à análise dos valores e princípios morais, éticos e sociais, situações, objetos, pessoas e comportamentos. 

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Entendendo a sustentabilidade

Sustentar significa ação de suportar, manter em suspensão, carregar, etc. Algo pode ser sustentado por um suporte, a um determinado custo energético. Uma plataforma pode sustentar um ou vários objetos, mantendo-os em estabilidade. A capacidade de suporte da plataforma determinará a carga a ser suportada e o tempo de permanência.

Um dos melhores exemplos de sustentação está nos elevadores. Possuem uma determinada capacidade de suporte, relacionada à potência e capacidade do equipamento, Sua produção, subidas e descidas com carga, está sujeita a um limite operacional e de segurança e não pode ser aumentada, 


O conceito desenvolvido originalmente para as atividades de silvicultura e manejo florestal foi ampliado para muitas situações e atividades, para as quais  o conceito de sustentabilidade perde completamente o sentido. Florestas constituem fontes renováveis de recursos e permitem obter rendimentos e benefícios de maneira permanente, desde que constantes e limitados à capacidade de renovação dos estoques. 

São justamente estas condições não presentes na maioria das atividades econômicas e formas de organização social que impedem e restringem a adequada aplicação do conceito de sustentabilidade. A concepção do incremento indefinido e crescimento ilimitado impede qualquer tentativa de sustentação.


E você entende de forma diferente? Que tal analisar sua percepção de sustentabilidade?

Por favor, responda a enquete a seguir e contribua para o esclarecimento e entendimento crítico desse termo hoje tão banalizado.

Acesse e responda:
https://docs.google.com/forms/d/192kyduIuMmM9i_ouBItfkmI30o-pscoU9qKMZfJBZQg/viewform

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Extrativismo global, miséria local

De todas as atividades florestais, a extração de látex e produção de borracha natural da Seringueira parece ser uma das mais folclóricas, e talvez, a mais relegada. Ainda é ensinada como atividade de um ciclo econômico ultrapassado e rudimentar. Uma atividade mitificada, efetuada nos recônditos da floresta amazônica.

O mito e o real: o folclore e a subsistência 

Em decorrência dos contextos geopolíticos globais vigentes, o extrativismo do látex da seringueira foi feneticamente impelido por duas vezes na história moderna. Alterou o arranjo financeiro local e mundial, 

A revolução industrial e a indústria automotiva, na efervescência do 2° conflito mundial, demandaram quantidades de um material, que até então, possuía uma única fonte viável: uma árvore conhecida milenarmente pelos nativos das selvas tropicais sul americanas. E promoveram significativas alterações sociais, culturais e econômicas nas nações produtoras.

Territórios até então distantes e impensáveis foram conectados financeiramente. O norte amazônico, o nordeste árido, o sudeste oligárquico e as metrópoles mundiais integrados, cada um na sua função, na histeria financeira da borracha. E o ordenamento econômico distanciou socialmente  territórios produtores de centros administrativos e financeiros.

O modelo exploratório impôs um ideal irrecusável para um contingente sem opção, com a mínima logística direcionada à extração da valiosa matéria prima, nos recônditos insalubres da amazônia.

Apelo irresistível (meramente ilustrativo).
As metrópoles locais enlouqueciam na febre do consumismo ostentatório dos Barões da Borracha, muito mais que com os outros oligarcas rurais, comerciais e industriais das respectivas épocas. Foi no meio dessa farra que o botânico da Rainha provocou a quebra do primeiro ciclo amazônico da borracha.

A biopirataria, que até hoje é legalmente permitida, com uma carga de sementes de Hevea brasiliensis, resultou no deslocamento continental da cadeia dessa importante matéria prima e respectivo fluxo de capital. No profundo e irreversível impacto à economia nacional, não ficou registrada claramente a dissipação da população extrativista, a desmobilização emigração de recursos e de capital, o desaparecimento de fortunas e a erosão do patrimônio. 

Essa exploração florestal talvez tenha representado, nas duas ocasiões históricas de demanda externa do látex, a possibilidade  de desenvolvimento econômico, regional e nacional, com integração financeira e social da amazônia.

Ficaram tantas histórias insanas e infelizes conectadas na imponência da selva e na loucura humana, entre bancos, palácios e seringais. Tal qual Herzog retrata em Fitzcarraldo. E ainda não conseguimos aprender.

domingo, 31 de março de 2013

Qual o Meio Ambiente que você prefere?

Sobre o meio ambiente, ecologia ou natureza, todos temos conceitos e pré conceitos, atitudes e posturas. Utilizamos, consumimos, militamos, descartamos e nos abstemos.

Segundo nossa experiência e entendimento, condicionados diariamente pelas informações e emoções que formam nossa vivência, preferimos algumas coisa a outras. Na relação com nosso habitat, meio ambiente natural ou modificado, não é diferente. Preferimos ou temos mais ou menos empatia por espaços ou paisagens, conforme nossa percepção, entendimento pessoal e experiências emotivas e sensitivas.

avanço da ideologia tecnológica de corporações globais moldou a passividade e o individualismo em nossas preferências geográficas. E atualmente a praia, a montanha, a cachoeira, paisagens de aceitação indiscutível, se fazem constantemente presente em imagens virtuais, assim como o deserto, as ilhas oceânicas, e geleiras. 

Assistimos com nitidez e resolução; melhor que conviver com o mundo desconfortável e inseguro. A realidade virtual é mais atraente e nos convence que é mais cômodo observar imagens a vivenciar com a coletividade, nos verdes da concreta e cinzenta paisagem urbana. E talvez nem precisemos tanto de espaços abertos para convívio coletivo, como praças e  parques  E nem de áreas de vida selvagem ou com formações naturais.


E na sua concepção, qual é seu "meio ambiente" preferido?



O mais natural?


Àquele intocado?

O mais protegido?

O mais isolado?

Àquele conservado?

Àquele com diversidade?

O mais exuberante?

 O mais primitivo?

Àquele limpo e confortável?

O mais comum?

Àquele sustentável?

O mais próximo?

O mais acessível?


terça-feira, 4 de setembro de 2012

Proteção Intermitente = Insegurança Permanente


A denominação Preservação Permanente, desgastada por apaixonadas e calorosas discordâncias, passou a constituir um jargão de pretensa proteção de habitantes urbanos para áreas predominantemente rurais. Incorporou a antipatia ideológica como impeditivo à produção rural. Tem sido distanciado o conceito do conhecimento, e assim polarizam-se as infundamentadas e parciais posturas.

Área degradada ou consolidada?
De um lado a sociedade urbana clama pela conservação de árvores e animais, por força do convencimento apelativo de superficiais abordagens televisivas. O envolvimento apaixonado  nada tem a ver com uma necessidade prática ou premente. Se percebe a proteção e amortecimento da vegetação das margens de rios, somente quando das enchentes e enxurradas. Empresários de comunicação e administradores públicos alardeiam sua ausência somente em ocorrências desastrosas. Mas todos esquecem que a ocupação empreendida e permitida nas cidades provocou a impermeabilização de quase todo o solo das bacias urbanas.


Área de insegurança intermitente

Por outro lado, produtores agrários rebatem a utilidade e necessidade de vegetação ciliar para as funções e regulações ambientais, às expensas de mais alguns hectares acrescidos à área rentável. O resultado do escoamento superficial de boa parte da água caída da chuva, que leva a destruição e a fertilidade do solo, não é percebido dentro da propriedade. 

A maioria dos consumidores urbanos credita o ônus e a responsabilidade da revegetação exclusivamente aos atuais produtores rurais. Estes reclamam, com certa razão, da conta da recomposição florestal. A prática do desflorestamento é resultante em parte, pelo estímulo histórico e pela cultura da soberania feudal do proprietário rural, gerada pela ausência e omissão do  Estado. E este não  incentiva efetivamente a recuperação da cobertura arbórea, direcionando a isenção de impostos para comerciantes de automóveis. Na queda de braço, o Parlamento, refletindo sua composição, pende para o lado de maior expressão econômica, e radicaliza atirando no pé apertado pelo sapato. Se o problema do trem é no último vagão, retira-se o último vagão.


Preservação intermitente?
A visão estreita e limitada somente enxerga o crescimento incondicional e imediato como se não houvesse uma capacidade de suporte a ser respeitada. E a segurança de populações e da própria economia é jogada por água abaixo, por não se perceber que a dinâmica dos fenômenos naturais é cíclica e interligada. Cursos d'água intermitentes evidenciam que o ciclo hidrológico e climático obedece uma pulsação vital, da qual depende toda a biota. Pensar que, pelo fato de não estar correndo água num curso qualquer, não há necessidade de cuidá-lo e protegê-lo, é equivalente a achar que por não estar na fase de colheita a cultura não merece cuidados e a terra que a suporta, não tem serventia.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Florestabilidade

Despertar vocações para carreiras em manejo florestal. Assim começa a descrição do Projeto encampado pela Fundação Roberto Marinho. Parceria com o Fundo Vale  e com apoio do Serviço Florestal Brasileiro e Governos Estaduais da Amazônia, o Projeto ‘Florestabilidade: Educação para o Manejo Florestal’ procura difundir o uso sustentável das florestas e oferecer recursos pedagógicos para professores e técnicos extensionistas da Amazônia. Segundo o texto, a necessidade de se propagar as vantagens econômicas, sociais e ambientais do manejo florestal consiste numa das justificativas do projeto. Em todas as palavras, tudo o que a sociedade deseja, especialmente a comunidade florestal.



Não era sem tempo que uma organização atrelada a uma das maiores empresas de comunicação do mundo assumisse uma iniciativa, sem trocadilhos, dessa natureza. A programação e a propaganda que veicula parecem não despertar mais interesse em temas relevantes. A curiosidade dos telespectadores, quando muito, é direcionada para temas fúteis e espetacularmente irrelevantes. A apatia, desinteresse, indiferença e desinformação em assuntos vitais é a regra. Seria isso proposital? 


A mineradora, também uma das maiores do mundo, agraciada recentemente com o título de empresa com a pior atuação ambiental, se propõe a refazer a conceituação popular, apoiando financeiramente esta distinta empreitada, apesar do montante irrisório e alcance restrito


Mina de Carajás. Foto Salviano Machado
Quanto ao serviço público, já temos nosso pós conceito: nós contribuintes custeamos, é ineficiente ou não funciona, é corrompido, e apesar de tudo isso, não quero nem saber. Talvez tenha sido a programação televisiva, que contribuiu durante décadas para tais convicções e omissões, numa concessão intencionalmente permissiva ou conivente. E agora a passividade parece inquebrável. Mas vem ai a próxima atração.

Programação no horário nobre, recursos massivos da mineradora, fortalecimento institucional e estruturação do órgão para cuidar integral e totalmente da produção florestal? Nem tanto.


Três horas de aula para 2 mil professores e algum material didático não poderão fazer muito. E a programação continuará propositalmente alienante, a cava de lavra continuará aumentando e gerando retorno aos investidores. O serviço continuará inoperante e ineficaz.


A supremacia da bovinocultura e a rentabilidade dos insumos e mercadorias agrícolas e minerais continuarão sobre o estorvo das coberturas arbóreas nativas. Mas antes um alento que um sufoco. 

Pecuária ou floresta?  Foto: Ernesto de Souza

O gestor público disse que era um sonho o Manejo Florestal ser incluído na programação da emissora. E é justamente no intuito de tornar isso realidade, aproveitando a carona nessa nobre tarefa, centrada na essência da produção florestal, que os profissionais, entidades, servidores e consumidores devem agir. No acompanhamento do projeto, no repasse das informações, na divulgação dos resultados e seus ganhos, e sobretudo, na replicação das ações.


Deve-se aproveitar a oportunidade para esclarecer, divulgar, valorizar, convencer e promover a adesão da maioria, inclusive daqueles que pensam contrariamente.




O mérito do propósito nos deixa uma esperança de que não só crianças, estudantes e ribeirinhos de áreas periféricas e dependentes da Amazônia sejam instruídos. Telespectadores, acionistas, financiadores, fabricantes, comerciantes, anunciantes e governantes, também poderiam obter, quem sabe, esclarecimento para mudar suas convicções. E também algumas gotas de ânimo para escolher a floresta como fonte de desenvolvimento, no oceano de eficientes estímulos desflorestadores.


Para saber mais sobre o Projeto Florestabilidade:

http://www.frm.org.br/main.jsp?lumPageId=FF8081811F27C555011F37254F73287F&lumS=projeto&lumItemId=8A3E4E38344573090134A49A2A706EE2


http://www.florestal.gov.br/noticias-do-sfb/projeto-florestabilidade-e-lancado-no-rj


terça-feira, 10 de julho de 2012

O profissional das Florestas

Profissionais com atuação ou relacionados ao meio ambiente existem inúmeros. São incontáveis os profissionais que tratam de recursos naturais, que trabalham com ecologia, que cuidam dos seres vivos, ou se dedicam à preservação de ecossistemas. Pertencem a diversas categorias, com as mais diferentes formações.


Mas para trabalhar com florestas, procurando o ordenamento destas formações, aliando a manutenção dos recursos florestais a uma produção com rendimentos sustentáveis, prevendo a manutenção perpétua de estoques e a maximização da rentabilidade, existem poucos profissionais habilitados. 

Em numero certamente insuficiente, estes profissionais tiveram uma formação que os habilita a trabalhar com diversas atividades relacionadas às florestas e aos recursos delas advindos, nos seus mais distintos aspectos e enfoques. Desde o manejo de fauna, visando a exploração econômica dos animais nativos com potencial econômico, a recuperação, reabilitação e recomposição de áreas florestais, como Reservas Legais e Áreas de Preservação Permanente, passando por questões ambientais de caráter bioclimático, edáfico, hídrico, biológico e ecossistêmico, até a atribuição mais emblemática, o manejo para fins madeireiros, cuja habilitação é própria e específica. 



A produção florestal, geralmente apontada como nociva e indesejável, em função da abordagem ambiental imposta pelos meios de comunicação, necessita de profissionais com formação específica. É justamente essa formação e vivência que permite conciliar a exploração e a preservação, habilidade singular que poucos profissionais desenvolvem. Daí surge a possibilidade de sustentação das atividades econômicas de origem florestal, fundamentada pela visão que considera a floresta como fonte e recurso.

Resta uma participação mais intensa e efetiva da categoria, que deve ser estimulada e incentivada por iniciativa do poder público, e demandada pelos setores produtivos. A valorização e o reconhecimento serão então, uma consequência natural.

Todo florestal já foi para a mata, e aprendeu que ela deve ser usada e mantida, da melhor forma e com os melhores propósitos possíveis.



Parabéns a todos da Floresta.