quinta-feira, 23 de junho de 2011

Para quê serve a Floresta?

Para quê?
Humm ..... Tanta coisa.... 
A demora para responder talvez seja por que as idéias não estão claras e as palavras não estão na ponta da língua. Por serem tantas as utilidades e serventias, ou talvez por que desconheçamos a maioria. Um cidadão urbano citará intuitivamente várias características, funções, qualidades. Um agricultor destacará questões, limitações e restrições relacionadas ao funcionamento prático e financeiro. Um cidadão europeu imediatamente defenderá os interesses ambientais globais. Um parlamentar brasileiro certamente defenderá a importância da produção rural. E por aí vai. Todos tem razão; cada um a sua.

Preservar?
Uma grande contribuição para a manutenção do mito, talvez seja a postura emotiva da maioria, inclusive de técnicos e profissionais do setor. Dificultando o esclarecimento, não contribui para  uma justificativa plausível da manutenção das florestas. Mas manter uma área florestal, "reservando" os recursos naturais para um eventual "uso", qualquer que seja, custa bastante. São necessárias várias medidas e intervenções. E pouca gente enxerga e compreende isso. Se não extrairmos nenhum produto ou matéria prima, se não "usarmos" a área, estaria garantida a manutenção? E com a crescente ocupação e pressão de consumo, até quando as áreas seriam preservadas e mantidas "naturais"? Hummmm ....

Floresta ciliar e ilhas florestadas no Rio Teles Pires - MT

Custa manter
Possuir uma extensão de formação florestal na propriedade é mais problema do que solução. São exceções os proprietários que mantêm florestas de bom grado e por convicção, e ainda mais com rentabilidade. A maioria não quer. Quem tem a experiência e quem conhece a questão,  sabe o que isso significa. 
A própria manutenção pura e simples da floresta custa muito. O "não uso" demanda proteção, regularização, vigilância e conservação, ações que requerem recursos constantes. A manutenção, considerando a alternativa de não explorar diretamente, requer medidas registro, cadastro, regularização e legalização, ações de monitoramento e intervenções ocasionais e sazonais. Soma-se a proteção, com combate a fogo, a invasões e interferências, prevenção contra pressões e ameaças, incluindo representações, deslocamentos e negociações presenciais. Somou? Os custos institucionais e administrativos constituem grande causa de desestímulo.

Custa produzir, é difícil e demorado 
Por ser uma atividade específica, a exploração florestal madeireira requer a contratação de um profissional habilitado para elaborar um Plano de Manejo, atividade bastante custosa. O controle e a autorização constituem um processo complicado e demorado, e os custos administrativos e técnicos, geralmente não são contabilizados devidamente. É necessário o cumprimento de dezenas  de exigências e requisitos para, após vistoria e aprovação, esperar a liberação do início da exploração. Se o tempo de retorno já é desestimulante, o tempo de espera até a improvável autorização, tende a exaurir os recurso e a motivação do solicitante, e impedir a produção florestal. A opção pela ilegalidade é pessoal, dentro de um contexto cultural favorável, reflexo do mercado, do Estado e da sociedade.

Exploração ilegal de palanques de Itaúba

Na exploração de outros produtos florestais, a regularização legal e administrativa é tão complicada quanto no setor madeireiro. E extenuante, quando não inviável, para a maioria dos exploradores. Estes são na quase totalidade, trabalhadores rurais sem propriedade, posseiros, produtores com titulação precária ou sem dominialidade da terra. Empregados rurais, arrendatários, meeiros, ou agricultores de subsistência familiar extraem produtos da floresta por estratégia e necessidade de sobrevivência.
Os demais requisitos para a formalidade são impraticáveis para a maioria, que extrapola o esforço de abastecimento familiar de subsistência, e acaba contribuindo individual e precariamente na produção regional. Quem precisa caminhar horas dentro na mata, se submeter efetivamente a condições extremas de insalubridade e de risco, carregar e estocar colheitas, não tem tempo, dinheiro e condições para os entraves burocráticos. Deslocamentos de dias de barco e/ou por estradas precárias, e semanas de tramitação burocrática, realmente não são para qualquer um.

Impede o desenvolvimento (!!)
A floresta é um obstáculo à produção rural tradicional. "Ocupa o espaço" das atividades agrícolas convencionais, portanto deve ser excluída da cadeia e retirada do ciclo. Procede-se à substituição da cobertura vegetal e do uso do solo. Como fica a produção de alimentos, a geração de riqueza, de empregos, de superávit comercial, de energia elétrica, se a floresta está ocupando a área produtiva? E sem retorno financeiro algum, só gera custos? Como a região poderá se desenvolver, se "só tem mata"? E não pode usar nem tirar!!

Degradação de Área de Preservação Permanente - Parque Estadual Cristalino, MT

Revendo nosso preconceito
A perplexidade diante do gritante paradoxo é, como diria um professor, estupefante. 
Se a a verdade é espantosa, veja na interpretação:
- se as pessoas foram literalmente levadas, e até impelidas a ocupar áreas florestais?
- se isto foi promovido, estimulado, e ocorreu sob a  responsabilidade oficial, de governos e instâncias do Poder Público, ao longo de diferentes épocas, relacionado a distintos interesses e em diferentes regiões, nhã, nhã nhã, pê, pê, pê.....     ??
- se é do nosso entendimento e concordância que, a terra "nua" e "limpa" vale mais, e a retirada da floresta ainda constitui "benfeitoria", quesito para valoração e outras contabilizações econômicas, financeiras e fiscais?
- se a floresta IMPEDE O DESENVOLVIMENTO ! ... !! 
- se ocupa o espaço, diga-se terras, de outras atividades mais "rentáveis" (lucrativas)!;
- tem um monte de doença e mosquito!!
- custa muito para manter, custa para explorar, é insalubre ...
Quer saber...

Desflorestamento e queimada para expansão de pastagem

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