terça-feira, 20 de setembro de 2011

Desmatamento: versão e interpretação

Na versão oficial, tem-se:

Desmatamento

É a operação que objetiva a supressão total da vegetação nativa de determinada área para o uso alternativo do solo. Considera-se nativa toda vegetação original, remanescente ou regenerada. Reforçamos o entendimento de que qualquer descaracterização que venha a suprimir toda vegetação nativa de uma determinada área deve ser interpretada como desmatamento.


A figura do "uso alternativo do solo" decorre da demanda espacial das atividades e ocupações na superfície terrestre, devido ao crescimento, especialização, diversificação, e consequente expansão territorial. O termo "alternativo" contudo, remete a uma possibilidade de não modificação de uso, ou seja, manutenção da vegetação nativa.

Entende-se por área selecionada para uso alternativo do solo, aquelas destinadas à implantação de projetos de colonização de assentamento de população; agropecuários; industriais; florestais; de geração e transmissão de energia; de mineração; e de transporte. (definição dada pelo Decreto 1.282, de 19 de outubro de 1994 - Cap. II, art. 7º, parágrafo único e pela Portaria 48, de 10 de julho de 1995 - Seção II, art. 21, §1º).


Atividades essenciais ao desenvolvimento nacional, que, invariavelmente, devem ser planejadas, executadas e geridas sob princípios e diretrizes estratégicos e perpetuamente sustentáveis.

De acordo com EMBRAPA (1996) e conforme CNPq e Academia de Ciências do Estado de São Paulo (1987), desmatamento é caracterizado pela prática de corte, capina ou queimada (por fogo ou produtos químicos), que leva à retirada da cobertura vegetal existente em determinada área, para fins de pecuária, agricultura ou expansão urbana.


Tais operações não ocorrem necessariamente na ordem citada, nem apresentam sequenciamento imediato. Mais detalhadamente: 
Corte arbóreo - caro e especializado. Deve ser oficial e legalmente atrelado ao destino e ao usuário da matéria prima florestal (madeira).


Capina - mecânica ou química, são dispendiosas e inviáveis para a maioria dos proprietários. Demandam equipamento, mão de obra e combustível, para execução, remanejamento, retirada e disposição de resíduos ou biomassa. Quando efetuada manualmente, se restringe a propriedades familiares e a propriedades pouco capitalizadas, para pequenas extensões, devido ao alto custo e baixo rendimento.

Queimada - forma mais rápida e eficiente de redução de biomassa. Deve ser autorizada e seguida de procedimentos e precauções sob sistema de controle e planejamento.


O gasto público concentra a maioria dos recursos para o controle e fiscalização dessas práticas, representando emblematicamente, os mais frequentes problemas ambientais divulgados.

Partindo do princípio que o desmatamento envolve um impacto ambiental dos mais acentuados, devido à descaracterização total do habitat natural, considera-se esta prática como última alternativa,  pois se a área solicitada para o desmate ainda é madeirável, isto é, se a área possui madeira de boa qualidade madeira de boa qualidade,  em quantidades economicamente viáveis, ao invés de se efetuar um desmatamento, deve-se implantar um Plano de Manejo Florestal Sustentado (PMFS). Caso a área requerida seja para formação de pastagens, dependendo da tipologia, pode-se optar pelo plantio direto. Nos casos em que a área solicitada realmente depende do corte raso para possibilitar o uso agrícola, pode-se intercalar faixas de vegetação nativa entre as áreas de plantio, a fim de minimizar os impactos envolvidos com a perda de solo e processos erosivos. 
Na Amazônia Legal, as solicitações de conversão para uso alternativo do solo acima de 3ha/ano não podem prescindir da apresentação de inventário florestal, bem como de vistoria prévia. Anteriormente a qualquer vistoria, o técnico executante deve rever a legislação para que não ocorram deslizes devido à inobservância legal.

Em atendimento a Instrução Normativa 003, de 10 de maio de 2001, deve-se apresentar o Inventário Florestal a 100% de todos indivíduos com DAP>20cm para a região da Amazônia Legal. Tecnicamente espera-se que a partir desta prática se possa determinar os fatores florísticos e estruturais da vegetação, tais como: o número de espécie por unidade de área; a existência de espécies imunes de corte; a densidade de indivíduos; e a área basal e o volume, não só das espécies economicamente aproveitáveis nos dias de hoje, mas também daquelas que ainda não entraram no mercado por motivos técnicos desconhecidos.

As recomendações e orientações técnicas oficiais refletem os cuidados e preocupações dos técnicos na manutenção e preservação das características naturais das paisagens. Mas, os procedimentos institucionais de regularização florestal, as deficiências, limitações e vulnerabilidades dos órgãos de controle, desacreditam as ações oficiais.
O conhecimento técnico institucional ainda não concebe a causa do não aproveitamento de diversas essências nas pastagens implantadas, cujas toras queimadas atestam a importância mercadológica, o descontrole oficial, e o resultado da forma de implantação do uso alternativo.

Como evitar o desmate clandestino

Intensificar a Educação Ambiental, levando a consciência a todas as comunidades locais;
Retomar a Extensão Rural;
Melhorar a fiscalização.
Não está incluída nenhuma medida de contrapartida para melhoria do controle governamental. A agilização e eficiência dos procedimentos nos órgãos de controle, juntamente com assistência e extensão efetivas, em ações interativas de informação e divulgação constantes, representam a abertura da vala e desobstrução do canal para regularização das atividades rurais. 
Não cabe somente pensar no apoio capenga da repressão, desgastado e ineficiente, cujo efeito contrário leva ao descrédito institucional.

Histórico

Desde o início da colonização do Brasil, as florestas da região costeira vêm sendo derrubadas. Naquela época, destacavam-se as matas de jacarandá e de outras madeiras nobres da região do Sul da Bahia, do Norte do Espírito Santo e da denominada Zona da Mata de Minas Gerais. De um total de, aproximadamente, 1,3 milhão de quilômetros quadrados da Mata Atlântica primitiva, restam, apenas, cerca de 50 mil km2 - menos de 5% da área original.
A intensificação do desmatamento se acentuou a partir de 1920, após o término da I Grande Guerra, com a vinda de imigrantes, especialmente da Europa. Além do prosseguimento da derrubada das árvores da Mata Atlântica, ocorreu a destruição avassaladora dos pinheirais da região Sul do país. Os carvoeiros e lenhadores avançavam com a derrubada de árvores para suprir as demandas dos usuários, destacadamente nas regiões dos Cerrados e do “Meio-Norte”, não respeitando as restrições legais de matas nativas, de proteção das nascentes, limites das margens dos cursos d’água, encostas com declives acentuados e topos de morros.
Na região norte do Estado do Paraná, as matas de perobas e outras espécies de madeiras-de-lei foram extintas, sem o devido aproveitamento nas serrarias, porque o objetivo era a ocupação da área para plantios de cafezais.
As áreas desmatadas da Floresta Amazônica, da Mata Atlântica e do Cerrado somam 2,5 milhões de km2 (250 milhões de hectares) - quase 30% do território brasileiro, ou a soma das superfícies formadas pelos Estados das Regiões Nordeste e Sudeste. Os técnicos florestais estimam que o desmatamento, em todo o território é superior a 300 milhões de hectares de matas.
O desmatamento e as queimadas da região Amazônica constituíram as mais sérias preocupações dos ambientalistas nas últimas décadas, por acarretar desequilíbrios imprevisíveis ao ambiente, com conseqüências desconhecidas. A extração ilegal de madeira, o desmatamento para uso alternativo do solo, sobretudo para a formação de extensas pastagens e plantios agrícolas formam a maior ameaça às florestas. A destruição da Amazônia, a maior das florestas primárias remanescentes do mundo é assustadora. Somente nos últimos quatro anos mais de 77 mil km2 - uma área um pouco maior do que os Estados do Rio Grande do Norte e Sergipe juntos - foram devastados.
Várias madeireiras estrangeiras, principalmente da Indonésia, Malásia, China e Japão, estão instaladas na região. Devido à precária fiscalização governamental na área, é grande o corte clandestino de árvores, que muitas vezes acontece, também, em reservas indígenas. Segundo relatório do Greenpeace, dos 36 pontos críticos de destruição na Amazônia, 72% estão relacionados à indústria madeireira. Apenas uma companhia que opera na região, a Mil Madeiras, é totalmente certificada pelo Conselho de Manejo Florestal e, das 17 companhias madeireiras pesquisadas, 13 indicaram não ter qualquer interesse em obter a certificação.
Um outro dado alarmante é que, nas últimas duas décadas, a contribuição da Amazônia na produção de toda a madeira utilizada no Brasil aumentou de 14% para 85%. A região forneceu quase 29 milhões de m3 de toras em 1997. De acordo com dados oficiais, 80% dessa exploração é feita de forma ilegal. Segundo o Greenpeace, mesmo a extração considerada legal é altamente destrutiva e o uso de tecnologia obsoleta resulta em enorme perda de matéria-prima durante o processo produtivo. Segundo a entidade, em média, apenas um terço da madeira extraída é transformada em produto final. Organizações não-governamentais de meio ambiente defendem também implementação de novas áreas para proteção da floresta, uma vez que as áreas protegidas existentes equivalem a apenas 3,5% da Amazônia. Até hoje, aproximadamente dois terços da Amazônia permanecem como floresta virgem e ainda podem ser preservados.

É a história do desordenamento territorial e descontrole oficial na ocupação espacial. Populações imigrantes com cultura florestal desenvolverão atividades florestais, se na região houver florestas e estímulos ou desimpedimentos. Atividades economicamente sobrepujantes também determinam o "uso alternativo do solo", substituindo a vegetação nativa. A dominância espacial de usos específicos revela historicamente a importância relativa da atividade sobre a ocupação original: madeira, café, cana de açúcar, pecuária, mineração, etc. Quanto maior a extensão utilizada, maior a importância econômica.

Dados e informações sobre o fenômeno devem ser considerados à luz da racionalidade: o deslocamento do fluxo do abastecimento da madeira para o mercado nacional deveria ser indicador de evolução e desenvolvimento. A ilegalidade é a questão que oficialmente, em todas as instâncias, ainda não foi consensuada. E virgindade florestal é um conceito polêmico e uma questão controversa.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Caatinga arbórea

A construção de uma ferrovia regional deve observar e atender  todos os preceitos e normas ambientais, em todas as instâncias do processo, desde o planejamento, implantação e funcionamento. Numa determinada região brasileira, onde devido a fatores naturais geoclimáticos, os recursos hídricos e bióticos são limitados em relação às necessidades sociais e econômicas, não é exatamente isso o que ocorre.

Residência rural no semi árido
Impactos Sociais
Como o meio ambiente é antes de tudo, cenário e resultado das atividades humanas, os primeiros e mais importantes impactos situam-se no âmbito social. Desapropriações e indenizações questionáveis de parte a parte, preceituam realocações assistidas dos desapropriados e uma série de benefícios teóricos.

Casa e moradores no caminho do progresso
A perda de áreas agrícolas produtivas na região afetada é considerável. A indução ao êxodo rural é grande e a migração aos locais de implantação é intensa, resultando em expansão de periferias urbanas e canteiros de obra. Os processos são correlatos, onde alguns afortunados com pouca ou nenhuma qualificação, são absorvidos temporariamente no processo. Outros empreendedores locais se beneficiam com o aporte demográfico. Daí decorrem inúmeros impactos sociais e urbanos, pouco ou nada benéficos.

Famílias de área rural no semi árido
Os primeiros impactos no meio físico são bem evidentes e decorrem da própria adequação do terreno: supressão da vegetação, movimentação de terra e nivelamento, presença e tráfego de trabalhadores, veículos e equipamentos, e  implantação das obras de arte. Todos eles pode ser devidamente mitigados e após a implantação, o aspecto impressionante será amenizado gradualmente, por conta das medidas de controle e pela ação da própria recuperação natural.

Corte em solo, em área de Caatinga arbustiva densa
Dos impactos da obra no meio físico, a retirada da vegetação, a movimentação de terra e material rochoso e a interferência em cursos d'água, geram grande repercussão ambiental. O assoreamento de talvegues e reservatórios é provocado por uma confluência desses impactos, principalmente na época das escassas chuvas. 


Cuidados ambientais nas operações de construção
As medidas exigidas para controle da erosão nem sempre são viáveis ou efetivas, dada à grande quantidade de material constantemente retirado, movimentado e descartado, à extensão da obra, ao despreparo de operadores e técnicos e ao descaso do empreendedor e responsáveis.

A redução de vazões e volumes de água decorrentes das operações construtivas sem preocupação ambiental, numa região de escassez e limitação hídrica, provoca consequências imperceptíveis e inestimáveis na saúde da população, nas sociedades e economias locais.
Estranhamente, apesar das dezenas de informações, documentos e providências exigidas dentre as condicionantes da Licença Ambiental, nenhum monitoramento e controle de assoreamento de reservatórios para abastecimento humano foi solicitado. 
As autorizações e outorgas para uso da água na obra foram concedidas sem maiores preocupações com a capacidade de suporte, vazões ecológicas e prioridades de uso.


Supressão de vegetação
A retirada da vegetação nativa em qualquer obra é um impacto ambiental cuja imediata percepção possui desdobramentos sociais significativos. 
Supressão de vegetação de Caatinga arbustiva e arbórea

Arraste de Baraúna
Nas autorizações de supressão de vegetação, o órgão ambiental exige a estocagem do material vegetal retirado e da camada superficial do solo, a fim facilitar a recuperação ambiental e a regeneração natural da vegetação, com a matéria orgânica e banco de sementes dessas fontes.
Troncos, galhos e pedras misturados com solo
O aumento da fertilidade, a melhoria das características físicas e químicas do solo, e o fornecimento de eventuais sementes ditam o raciocínio dos técnicos nessa exigência. Troncos e galhos de árvores grandes porém, não se prestam para essa finalidade, além de demandarem por parte das construtoras, custos específicos com empilhamento e realocação. Deveriam portanto, ser destinados ao uso e benefício social.
Material lenhoso, solo e pedras misturados na leira lateral
A madeira e a lenha das formações de Caatinga arbustiva e arbórea, fonte de material e energia para a população local, constituem os principais produtos vegetais tradicionalmente extraídos nessa região de recursos escassos. 

Material lenhoso estocado
A proibição de retirada da galhada e troncos das árvores abatidas (angicos, aroeiras, baraúnas, imburanas, etc) pela população afetada, por conta das exigências da legislação ambiental e por incapacidade gerencial, são entendidas pela população local, como mais uma imposição em nome do desenvolvimento. 

Troncos quebrados de árvores derrubadas por trator

Troncos de árvores abatidas manualmente, sem aproveitamento

O não aproveitamento do material lenhoso constitui um desrespeito à população e à região, no processo de implantação desse empreendimento, e representa a negação da sustentabilidade que o empreendimento defende.

Apesar do esforço pessoal de alguns técnicos para doação imediata da lenha e da madeira retirada, principalmente para os desapropriados, o entendimento oficial sobre a destinação desse material é inflexível quanto ao cumprimento de todas as exigências legais e burocráticas. Tomando isso como justificativa, a gestão ambiental do empreendimento assume uma postura de inoperância e impassividade.

 
Com isso, o recurso lenhoso, escasso e legalmente inacessível para a população rural, fica relegado à degradação e inutilidade. O mais intrigante é a indiferença e desinteresse dos responsáveis em mitigar esse agudo e emblemático impacto social e ambiental. Mesmo cientes e concordantes, e até verificando no próprio local, parecem não perceber o efeito do recurso desperdiçado.


Os técnicos do órgão ambiental, os empreendedores e os responsáveis moram em cidades, não residem em áreas rurais do sertão e não precisam da Caatinga. Contudo, recentemente outros técnicos de órgãos governamentais idealizaram um esforço para fomento do Manejo Florestal na Caatinga, com objetivo de estimular a produção de lenha.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Redução e eliminação de Unidades de Conservação

Cláudio Angelo da Folha escreveu que uma medida provisória determinará a redução ("desafetação") do Parque Nacional da Amazônia e das Florestas Nacionais de Itaituba 1 e 2, após um pedido da ELETRONORTE. Serão alagados pelos reservatórios das usinas de São Luiz e Jatobá, no rio Tapajós, Pará. 

Disse que numa determinação sem estudo prévio, a decisão foi comunicada aos chefes das áreas protegidas, com instrução de não conversar com a imprensa. Outras cinco áreas protegidas estriam na mira do governo federal para dar lugar a mais três usinas do chamado Complexo TapajósTécnicos temem que a implantação da usina de São Luiz provoque extinções locais e o ICMBio, procurado pela reportagem, não comentou a proposta.

A notícia não transparece a seriedade e gravidade da situação relatada. Ecossistemas naturais dando lugar a áreas para produção de energia não é de hoje nem é só aqui. Questionar a legalidade da medida, a hierarquia do diploma legal, a magnitude do efeito, ou mesmo a extensão dos impactos parece secundário.

O mérito da questão é: AINDA há espaços economicamente imprescindíveis na globalização do capital internacional (para quê se quer mais energia?), e que não estão sendo "usados" para o progresso e desenvolvimento. O precedente está sendo preparado. 

Ecossistemas naturais, áreas de vegetação nativa, formações primárias, populações e espécies em extinção? Qui o quê! Ordem e Progresso. Mesmo que isto seja insustentável para a região e gere o subdesenvolvimento local. Até a hora em que se avalie ser mais vantajoso manter a área como reserva do patrimônio mundial e se proceda a uma intervenção internacional. 

E os guardiões da soberania e do patrimônio nacional não parecem estar no Parlamento.

Lago de Balbina (Mauricio Simonetti)

terça-feira, 12 de julho de 2011

Parabéns Engenheiro Florestal!

Comemore-se com a melhor disposição possível e a maior motivação do mundo.

O dia do profissional das FLORESTAS é aqui ressaltado, primeiro para divulgação. Mais gente precisa saber da existência desses profissionais. Também para valorizar coletivamente a classe cuja responsabilidade foi sentida recentemente, e percebeu-se que a necessidade é enorme, a atuação ainda é incipiente e a participação é tão tímida. Mas ainda aproveito para enaltecer e homenagear cada pessoa que se dispôs, insistiu e acreditou numa decisão única: ser ENGENHEIRO FLORESTAL.

Não são muitos. Não são todos. Os que eu conheço são dispostos e tem muita vontade. Já fizeram e estão fazendo bastante. E acredito, que fazem tão bem quanto o melhor profissional, com a melhor formação e grade curricular.

Mando um grande abraço e agradecimento aos  colegas e amigos dessa categoria realmente diferenciada.

Selva!

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quarta-feira, 29 de junho de 2011

Floresta em pé

Florestas deitadas, sentadas, agachadas? Parece besteira, mas existiria outra possibilidade de existência para as formações florestais? Pode até ser que em algumas condições, indivíduos ou formações possam assumir características diferentes daquelas determinadas pelo geotropismo nas plantas. Mas uma árvore, de uma forma geral, tem como característica intrínseca o desenvolvimento vertical de tronco, que estabelece e fixa o vegetal, da forma mais estável possível, para maximizar a abertura aérea da copa.

O termo decorre da denominação da matéria prima florestal extraída diretamente no local de ocorrência. "Madeira em pé" se refere à comercialização individual de árvores de madeira valorizada, procedimento tradicional nas áreas florestais. O processo de abate seletivo irregular ocorre principalmente, quando o controle oficial inexiste  ou é deficiente, quando a demanda de madeira é predominante na economia local, e quando há imperativa necessidade de obter ganho financeiro, de modo rápido e com mínimo custo.  Vendem-se as "madeiras" diretamente ao interessado, o qual arca com custos de exploração, transporte e "legalização". 

Floresta "deitada"?
O perigo em repetir jargões está em legitimar conceitos descabidos, mascarando o problema, causas e efeitos. "Em pé" é uma nomeação imprópria e inaplicável à floresta. Demonstra, além de desconhecimento, um despreparo para qualquer trato subsequente da questão. Induz à consideração de outras "posições" admissíveis (deitada, sentada)O principal é que muda radicalmente o foco da questão, pois desvincula e desassocia a função ambiental e produtiva da floresta, e a responsabilidade de tutela governamental e do proprietário ou usuário da terra.

O que se deveria dizer, na verdade, é: manutenção da floresta. Isto é sutil e significativamente diferente. Manter a floresta implica em cuidar, proteger, e até mesmo, utilizar responsavelmente. A floresta só pode ser concebida "em pé", e sua manutenção é uma condição indissociável à existência. Se não estiver em pé, não é floresta!

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Extrativismo de capital

A Agência Brasil publicou em 19/06/2011, dados interessantes:
As florestas são a fonte de pelo menos 200 mil famílias que vivem do extrativismo só na Amazônia
Um milhão de pessoas diretamente envolvidas com a coleta e venda de produtos florestais já é uma população expressiva, mesmo dispersa e diversificada. Se considerarmos a cadeia produtiva, facilmente percebemos que o contingente é muito maior. 

Dentro dessa consideração, são Incluídos o pescado e diversos produtos vegetais não madeireiros (castanha, óleos vegetais, fibras, açaí e látex). 
O pescado é tratado dentro do setor pesqueiro por regulamentação, normatização e legislação específica. Compreende cadeias consolidadas e associadas tradicionalmente ao ramo produtivo da administração pública. Os demais produtos florestais incorporam o caráter preservacionista do extrativismo, o que contribui para a manutenção da informalidade e das escalas artesanais de produção.

Diversidade de frutos e sementes florestais

Políticas públicas para o extrativismo, conforme a reportagem, não consideram a questão da produção, da família em si, da organização comunitária, da convivência com os recursos naturais, da regularização fundiária, e do ordenamento ambiental. Um representante dos extrativistas, Manoel Silva da Cunha, destaca no texto, a questão fundiária como o principal problema: “Até hoje esse processo ainda permanece, inclusive nas reservas extrativistas ... o problema da regularização não está resolvido”.
O ordenamento fundiário passa pela reforma do Judiciário, operacionalização dos Cadastros Nacionais, incorporação e integração das informações e procedimentos dos órgãos ambientais, georreferenciamento cartorial em base única, indenização de terras particulares, etc. Não se percebe nenhum esforço em ações estruturantes e integradas em abrangência nacional para resolver esse passivo secular do Estado.

Manoel Silva da Cunha enfatiza a inépcia: “... quando você quer melhorar a sua extração ... não tem ninguém dentro dos órgãos habilitado pra isso”. Cunha aponta também a falta de crédito para o extrativista.
É muito fácil estabelecer princípios, diretrizes e metas nos gabinetes federais. E a arrogância teórica e burocrática desconhece realidades distantes e ignora assuntos locais. Qualificação não significa titulação, mas a experiência de conhecimento e de prática, e a capacidade de contribuir e agregar colaboradores no esforço da solução. Muitos técnicos e gestores públicos porém, não pensam nem agem assim.
O crédito é um produto financeiro de alto custo e risco, e diversos aspectos da informalidade do extrativismo  dificultam o acesso. O fluxo do capital não acessa os recônditos das fontes de extração devido à insignificância econômica e rentabilidade restrita. O elefante não enxerga a formiga e vice versa.

Ouriços com castanha não beneficiada

Do lado oficial, os diretores do Departamento de Florestas, do Ministério do Meio Ambiente, e do Serviço Florestal Brasileiro, são citados declarando que tem havido resultados bastante interessantes, e que o trabalho tem sido mostrar que conservar a floresta gera renda.
E os resultados práticos?

O texto finaliza relatando que no Plano Brasil Sem Miséria está prevista a Bolsa Verde, um auxílio trimestral de R$ 300 para famílias que contribuem para a conservação nas suas localidades.
Dar dinheiro é sempre muito bom, principalmente quando é dos outros e serve para a auto promoção.


Algumas Referências:

Amazônia: como aproveitar os benefícios da destruição?
HOMMA, ALFREDO KINGO OYAMA 

A extração sustentável de produtos florestais na Amazônia brasileira: vantagens, obstáculos e perspectivas.
DRUMMOND, J.A.  Estudos Sociedade e Agricultura, 6, julho 1996.

EXTRATIVISMO DE PRODUTOS FLORESTAIS NO ECOSSISTEMA PÁRAMO (CENTRO-OESTE DA COLÔMBIA): ANÁLISE DAS SUAS IMPLICAÇÕES SOCIOECONÔMICAS E AMBIENTAIS
CARDONA, J.C. de los R.; SOUZA, G.C de. 

Produtos Florestais Não Madeireiros: Importância e Manejo Sustentável da Floresta
FIEDLER et al

PLANTAS MEDICINAIS E AROMÁTICAS: PRODUTOS FLORESTAIS NÃO MADEIREIROS (PFNM)
CASTELLANI, D.C. 

Gestão e comercialização de produtos florestais não madeireiros (pfnm) da biodiversidade no Brasil.
GONÇALO, J.E.  XXVI ENEGEP, Fortaleza, 2006.

ASPECTOS MERCADOLÓGICOS DE PRODUTOS FLORESTAIS NÃO MADEIREIROS – ANÁLISE RETROSPECTIVA 
BALZON et al. FLORESTA 34 (3), Curitiba, 2004

PRODUTOS NÃO MADEIREIROS: CONCEITUAÇÃO, CLASSIFICAÇÃO, VALORAÇÃO E MERCADOS
SANOTS et al. REVISTA FLORESTA 33(2), Curitiba, 2003